sexta-feira, 12 de julho de 2013

Liturgia XV Domingo Tempo Comum

Evangelho de Lucas 10,25-37
– viver a vida eterna –

            O texto evangélico que hoje nos é apresentado é, sem dúvida, uma das parábolas mais bonitas e exigentes do Evangelho. Chama a atenção que somente Lucas a conserva em seu relato. A parábola está enquadrada num diálogo que mantém Jesus com um especialista em Lei, que, segundo Lucas, tem como intenção tentar Jesus, mas Ele aproveita para expor o que é central da sua proposta de vida.
            A atitude de Jesus, suas perguntas e respostas o revelam como um verdadeiro pedagogo. Longe de entrar numa discussão, que não levaria a nada, com o mestre da lei, conduz seu interlocutor para o coração da Lei mosaica: "Amar ao Senhor, seu Deus, com todo o seu coração, com toda a sua alma, com toda a sua força e com toda a sua mente; e ao seu próximo como a si mesmo", eis a novidade do amor cristão.
            Percorramos, conduzidos pelas palavras de Jesus este caminho que nos leva à vida eterna. A chave está na resposta à segunda pergunta do mestre da lei: "quem é meu próximo?". Para os judeus, tanto no livro do Levítico como no Deuteronômio, o próximo é o israelita, o título de irmão está reservado só para os israelistas. Aqui está uma das razões que dão a esta parábola uma característica de "revolucionária", mostrando a universalidade do amor cristão.
            Busquemos agora nos adentrar na parábola e para isso podemos recorrer à nossa imaginação para recriar os acontecimentos. Voltemos a ler a narração da parábola.
            Um homem descia de Jerusalém a Jericó e é assaltado a ponto de ficar quase morto. Quantas pessoas podemos colocar nessa situação hoje em dia, que sofrem diferentes violências?! Tenhamos a ousadia de dar nome a esse "homem". Enquanto ele está caído à beira do caminho, várias pessoas passam a seu lado, e o impressionante é que o texto deixa claro que o vêem! Mas continuam seu caminho sem fazer nada por ele. Há uma cegueira de coração. E quão comum é em nossos dias esse tipo de cegueira, a qual podemos chamar de indiferença, individualismo, "cada um na sua"..., os nomes podem variar, mas a consequência é a mesma: solidão, abandono, morte.
            Aparece então no mesmo caminho o samaritano, que, para os judeus, é considerado um pagão. Como os outros, ele vê o homem à beira do caminho, mas a grande diferença é que ele, movido pela compaixão, se aproxima e cuida dele ternamente. Outros textos do Novo Testamento nos mostram que o sentimento de compaixão, a atitude de aproximar-se correspondem a características do próprio Deus.  Lembremo-nos da parábola do filho Pródigo (Lc 15,20), ou aquela de Jesus com a viúva de Naím (Lc 7,13). Podemos relacionar o bom samaritano com Jesus.
            Já os padres da Igreja fizeram esta identificação. Por exemplo, Clemente de Alexandria se perguntava: "Quem é o bom samaritano, senão o Salvador? Quem há tido mais compaixão de nós que ele?". Quem senão Deus teve compaixão de nossa situação ao ponto de se aproximar, fazendo-se um de nós e descendo até às profundidades do sofrimento e limite humano para desde ali curá-lo e libertá-lo.
            Dessa maneira o bom samaritano é aquele que "atua" como Deus, seguindo o exemplo de Jesus de Nazaré, aquele que sente o sofrimento dos homens aos quais se faz próximo para aliviar a dor, curá-los, defendê-los, dar-lhes vida. As pessoas estão ao nosso redor, depende de nossa atitude que elas se convertam em nossos próximos! Seremos se, como o samaritano, agindo movidos pela compaixão, nos aproximamos delas e praticamos a misericórdia.
            Lembremos as palavras do Papa Francisco no encontro no Vaticano com os 8 mil estudantes das escolas dos jesuítas: "Em um mundo em que temos tantas riquezas e recursos para dar de comer a todos, não se pode entender como há tantas crianças famintas, sem educação, tantos pobres... A pobreza, hoje, é um grito, todos devemos pensar se podemos nos tornar um pouco mais pobres". Ele por primeiro se pergunta: "Como posso me tornar um pouco pobre para me assemelhar a Jesus, mestre com os pobres”?
            E Lucas termina o relato com um "imperativo" de Jesus a todos nós: "Vá, e faça a mesma coisa". Ou seja, vá e torna-se imitador de Deus, próximo de todos os necessitados, porque só é possível encontrar a vida, defendendo-a, cuidando-a naqueles na qual está ameaçada. Terás já a vida eterna, porque, desde já, estarás vivendo a vida de Deus mesmo.
Fonte:www.ihu.unisinos.br

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