sábado, 27 de julho de 2013

A ORAÇÃO DO DISCÍPULO

 
 
Pessoas muito racionalistas experimentam geralmente dificuldade quanto à oração de súplica. Acham bom rezar para adorar ou agradecer, pois reconhecem que a vida é um dom e que existe um ser transcendente e perfeito, que se chama Deus. Mas pedir que este ser se ocupe com nosso dia-a-dia lhes parece metafisicamente ingênuo e praticamente pouco atraente, pois torna Deus muito familiar. Ora, aquele que sustenta todo ser, também não sustenta nosso dia-a-dia? Ou será que as poucas leis físicas, psicológicas, econômicas e sociológicas que conhecemos são realmente tão abrangentes que não sobre mais espaço para Deus? (Em vez de pensar que estas leis são uma parte do sustento que ele nos fornece em cada momento.)
 
Seja como for, Jesus nos ensinou a pedir e a suplicar, até com insistência. Fala de uma viúva que pede, pede até cansar o juiz; de um vizinho que bate, à noite, até que o dono se levanta para se ver livre dele (evangelho). Faz pensar em Abraão, que, ao rezar por Sodoma e Gomorra (1ª  leitura), lê a lição a Deus: “Não podes perder os justos com os injustos, é uma questão de honra!” E Deus atende. “Cada vez que te invoquei, me deste ouvido”, reza o Sl 138 [137] (salmo responsorial).
 
A oração de Abraão, como também a da viúva e do vizinho, nos ensinam uma coisa importante: pedem coisas com que Deus se possa comprometer. Parece que pedem a Deus o que, no fundo, ele mesmo deseja. Esse é o segredo da oração eficiente (além de nossa insistência). Por isso, Jesus ensina a seus discípulos, e a todos nós, rezar primeiro para que Deus encontre reconhecimento e seu Reino venha (Mt 6, 10 explicita: “Tua vontade seja feita”). Dentro deste quadro de referências, podemos e devemos rezar por nosso pão de cada dia, por perdão (pois somos eternos devedores), por ficar incólumes na tentação. Devemos rezar por isso, com insistência, não tanto porque Deus não soubesse o que precisamos, mas para nos abrirmos para o que ele nos que dar. Pedindo, a gente se convence mais a si mesmo do que a Deus. Pedir é cultivar nossa fé, nossa confiança filial, é deixar crescer Deus como nosso Pai, em nossa consciência e em toda a nossa vida . É voltar a ser crianças – condição para entrar no Reino (cf. Lc 18,17). É por isso que os intelectuais tão dificilmente pedem.
 
Com estas considerações não queremos justificar a oração que reduz Deus a um quebra-galho ou tapa-buraco, às vezes até para causas que não condizem com seu Reino (para um bom negócio … pouco importa que outra pessoa fique prejudicada). Queremos revalorizar a oração mediadora, em que minha confiança filial em Deus me leva a extravasar diante de Deus aquilo que habita meu coração: o irmão, o próximo a quem eu quero bem, mas que eu velo em dificuldade. Como Abraão pelos habitantes de Sodoma. Não é absurdo. Se o mundo não é feito somente com as leis físicas, psicológicas e sociológicas que estão nos manuais, mas com o mistério da vida, não há dúvida de que a preocupação amorosa, que extravasamos até diante de Deus, será operante, pela graça daquele mesmo que sustenta toda a vida.
 
“Ninguém salva a ninguém”. Será? Ninguém é salvo se não quer. Mas, em Cristo, existe uma comunhão de vida entre aqueles que buscam a fonte da vida, que é Deus. Esta comunhão de vida faz com que Cristo nos redima (2ª leitura). Desde que participemos da vida que ele viveu (o que é significado pelo batismo, imersão na sua morte, para que ressuscitemos com ele para uma vida nova), podemos dizer que a santidade de Cristo salda nossas dívidas e que sua morte por amor supre nossa falta de amor (com a condição de nos arrependermos). Como nós mesmos perdoamos alguém a pedido de uma pessoa amiga (pai, mãe, irmão … ), assim nossa comunhão (amizade) com Cristo vale para nos restabelecer na amizade de Deus. E também nossa oração de intervenção junto a Deus será eficaz.
 

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